O que aconteceu com Pete Best, o “Beatle esquecido”


Os Beatles são um dos maiores fenômenos da história da música, não só pelo que o grupo representou na época em que estavam ativos, mas também pela influência que exercem ainda hoje, 50 anos após a separação do quarteto formado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.  

Porém, nem sempre foi assim, nem sempre “Os Reis do Iê, Iê, Iê” fizeram um sucesso estrondoso e muito menos tocaram com essa formação. Até porque, Ringo Starr não fazia parte do grupo original. Ele só entrou na banda em 1962, depois da primeira turnê dos Beatles, na época. 

Na ocasião, o dono do posto era Pete Best, que fazia parte da banda desde 12 de agosto de 1960 e já tinha feito cerca de 200 shows ao lado de Paul, John e George. Mas qual o motivo da mudança e o que aconteceu com o integrante original dos Beatles que completou 79 anos ontem (24 de novembro)?

Quem era Pete Best? 

Filho de Mona Best, uma indiana nascida em Deli, Randolph Peter Scanland é fruto da relação da mãe com Donald Peter Scanland, engenheiro naval que morreu pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Os dois se conheceram quando Mona fazia treinamento para se tornar uma médica à serviço da Cruz Vermelha. Donald, por sua vez, servia como Instrutor de Treinamento Físico na Índia. 

Em 24 de novembro de 1941, a relação gerou um fruto. Pete, nasceu em Madras, agora conhecida como Chennai, na Índia Britânica. Três anos depois, seus pais se casam na Catedral de São Tomás, em Bombaim. Mesmo período que nasce Rory Best, seu irmão.

Em 1945, a família Best deixa o país em direção a Liverpool, a bordo do Georgic, último navio de tropas a sair da Índia. Quatro semanas depois, a embarcação atracou na cidade inglesa, exatamente no Natal daquele ano.  

Best tocando em Maryland em 2006

Já estabelecidos na Terra da Rainha, e após a morte do pai, Pete começou a mostrar uma relação maior com a música após passar nos exames finais do último ano do primário, quando ingressou na Liverpool Collegiate Grammar School.  

Paralelamente aos estudos, o garoto decidiu que queria formar sua própria banda. Mona investiu no sonho do filho e lhe deu uma bateria. Mais tarde, ao lado de Chas Newby, Bill Barlow e Ken Brown, nasceu o The Black Jacks. 

Na década de 1960, Pete se torna amigo de Neil Aspinall, que alugava um quarto na casa dos Best’s. Aspinall, mais tarde, acabou se tornando o executivo e produtor musical dos Beatles, mas antes disso, ele teve um caso amoroso com Mona, com quem teve um filho: Vincent "Roag" Best, meio-irmão de Pete. Sua paternidade foi negada por anos antes dele admitir publicamente que era pai de Roag.

A entrada nos Beatles 

Em 1960, Allan Williams, que era empresário dos Beatles, havia organizado uma temporada de reservas para a banda em Hamburgo, na Alemanha, que começaria em 17 de agosto. Porém, ele ainda não se empolgava com o grupo. 

A visão até que era corroborada por Paul McCartney, que se preocupava com o fato do trio não ter um baterista. Mas tudo mudou quando ele viu Pete tocando com seu próprio grupo. Em Liverpool, as fãs do The Black Jack o viam como “mau, temperamental e magnífico”, o que, de certa forma, convenceu Paul de que ele seria bom para o grupo.  

Após o término do The Black Jack, McCartney o convidou para a turnê em Hamburgo. Best tinha passado nos exames escolares e estava quase ingressando na faculdade, mas deixou tudo para trás para entrar de cabeça na nova banda.

Após a volta da turnê, em 1962, o quarteto participou de uma audição na Decca Records, em Londres. Mas, apesar das 15 músicas gravadas, eles não conseguiram convencer a gravadora, uma das grandes referências até hoje, a investirem no grupo.  

A rejeição foi informada a Brian Epstein, que recentemente havia se tornado empresário da banda. A notícia foi repassada para todos da banda, com exceção a Best. Posteriormente, o grupo foi aceito pela Polydor Records, mas o produtor musical George Martin não gostou muito do desempenho de Pete. 

A saída dos Beatles

A insatisfação de Martin foi corroborada por Paul, John e George, que concordaram em demiti-lo da banda. Assim, a missão de contar a decisão ficou sob as costas de Epstein. 

Best revela que quando lhe foi dada a notícia, entretanto, ele esperava que a reunião para a qual havia sido chamado trataria de outro assunto. "Eu pensava que seria uma sessão de perguntas [...] Eu entrei e Brian não estava normal, tranquilo, calmo e plácido. Ele estava muito agitado, e eu olhei para ele e disse: 'Whoa, alguma coisa cheira aqui...'", revelou em entrevista para o programa The Late Late Show e que posteriormente foi reproduzido pela Rolling Stones. 

Além da saída do grupo, Pete ressente que McCartney, Lennon e Harrison poderiam ter sido mais gentis com ele após sua exclusão. "Inicialmente, eu não era um baterista bom o suficiente, então, de repente, eu era 'anti-social', 'não falava', 'genioso', 'devagar'" [...] Vamos lá caras, me dê um tempo. Vocês já me expulsaram da banda. Me deixem em paz, apenas me deixe seguir com minha própria vida". 

O baterista diz que apesar dessas declarações, jamais entendeu o real motivo de sua demissão, já que a única razão que Epstein deu na época foi: “Os rapazes não querem mais você no grupo”, explica Bob Spitz no livro The Beatles – The Biography, de 2005. 

Em contrapartida, em sua biografia, Brian afirma que o trio achava Pete “convencional demais para ser um Beatle”, acrescentando que "embora ele fosse amigo de John, ele não era apreciado por George e Paul". 

Outro ponto de vista levantado foi documentado no livro John, de Cynthia Lennon, que relata que, enquanto os outros integrantes passavam o tempo livro juntos em Hamburgo ou Liverpool, onde socializavam e escreviam canções, Pete Best saia sozinho e isso o deixava de fora de muitas experiências, projetos, referências e até mesmo das piadas internas do grupo. 

O que de concreto aconteceu, provavelmente nunca saberemos, já que muitas dessas hipóteses foram desmentidas pelos Beatles em diferentes oportunidades. A única coisa ao certo é Ringo Starr acabou substituindo Pete Best no dia 16 de agosto de 1962.

Vida pós-Beatles

Após a demissão, Epstein se ofereceu para construir um grupo ao seu redor. Pete declinou, se sentia deprimido e passou algumas semanas sozinho em casa. Foi então que Brian organizou, secretamente, para que Best se juntasse ao Lee Curtis & All Stars. Quer dizer, Curtis estava saindo da banda que, mais tarde, viraria Pete Best & All Star. O grupo assinou com a Decca Records e até lançaram o single "I'm Gonna Knock On Your Door". Porém, a música não teve sucesso.  

Anos depois, ele ainda embarcou em outros projetos, como o Pete Best Four, e mais tarde como o Pete Best Combo. Apesar da turnê pelos Estados Unidos, Best teve pouco retorno na época. Mais tarde, ele escreveria uma série de sucessos para o grupo feminino americano Flirtations e o grupo britânico The Rubettes. Anos depois, ele decidiu largar o show business.

Pete Best em 2010 autografando baquetas durante festival 

Apesar das desavenças, o ex-baterista dos Beatles disse que não se arrepende de ter feito parte do grupo e se diz contente em saber que tocou na maior banda da indústria musical. "Eu não tenho arrependimentos. Foi uma experiência maravilhosa tocar com a maior banda do showbiz. Eu não quero pensar que nada vai superar isso. Eu estou orgulhoso da minha contribuição”.


Comentários